"ESTAMOS CORRENDO ATRÁS DO PREJUÍZO", DIZ CEO DA RUMO AO ANUNCIAR INÍCIO DA 1ª FERROVIA PRIVADA

Dimmi Amora, da Agência iNFRA


A primeira ferrovia privada do país vai ter o início de suas obras nas próximas semanas, com a aprovação da diretoria da Rumo S/A para o início da construção da extensão da Ferronorte, no trecho entre Rondonópolis e Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. O ato foi comunicado em fato relevante na quinta-feira (3) pela companhia.

Essa ferrovia é autorizada pelo governo do estado de Mato Grosso, que elaborou no início de 2021, antes de o governo federal fazer a sua, uma legislação para autorizar ferrovias em seu território, o que culminou com autorização para esse trecho de 720 quilômetros, dada no meio do ano passado.

Estimada numa primeira etapa de 220 quilômetros, até Campo Verde, no valor entre R$ 4 bilhões e R$ 4,5 bilhões, o projeto deverá ampliar a capacidade de transporte da ferrovia em 10 milhões de toneladas/ano, de acordo com fato relevante publicado pela companhia.

A estimativa é que a construção se encerre no fim de 2025 e no primeiro trimestre do ano seguinte já seja possível transportar cargas. A construção será modular (em etapas), e o calendário dos trechos seguintes será anunciado posteriormente.

Para poder chegar à fase de começar as obras, o CEO da companhia, Beto Abreu, lembrou que o projeto começou a ser feito em 2019 e, nesses quase quatro anos, teve que passar por diversos desafios econômicos, de engenharia e regulatórios. 

Foram estudados mais de dois mil traçados para que fosse possível obter as licenças ambientais e desapropriações necessárias. Os mapeamentos geológicos foram feitos com a ajuda de aeronaves que só podiam ser tripuladas por estrangeiros, lembrou Abreu.

Chegar antes
Mas Beto não tem dúvida de que o projeto será viável mesmo com a completa mudança de cenário desde o início do projeto, com o advento da Covid-19 e da guerra na Ucrânia, que gerou maior inflação, juros e variação cambial. A confiança vem da constatação de que a ferrovia já deveria estar operando há muitos anos. 

"O certo é a ferrovia chegar antes [do desenvolvimento]. Estamos atrasados e tentando tirar o atraso", explicou Abreu, referindo-se ao elevado nível de cargas em Mato Grosso e o baixo volume de ferrovias.

O estado só tem os cerca de 300 quilômetros de ferrovias que ligam Rondonópolis a São Paulo, mesmo sendo o maior produtor de vários produtos agrícolas no país. 

"É preciso construir uma malha multimodal no estado, que o coloque no seu lugar. O Mato Grosso já é o grande protagonista do agro no Brasil, e o Brasil, do mundo", disse o CEO, lembrando o baixo volume transportado em ferrovias ainda no país, na faixa dos 15% do total.

Novas ferrovias
Beto explicou que as outras duas ferrovias às quais a Rumo solicitou autorização, dessa vez ao governo federal, para construir no estado (entre Primavera do Leste e Ribeirão Cascalheira e entre Sinop e Trivelato), ainda estão em fase incipiente de projeto e necessitam de mais estudos econômicos sociais e ambientais para serem feitas.

"Estamos começando praticamente em 2023 um projeto que começamos em 2019", lembrou. 

A intenção é construir uma rede, o que inclui outras ferrovias geridas pela empresa, como a Malha Central (antiga Ferrovia Norte-Sul), que segundo Abreu, estará concluída no próximo semestre, fechando a ligação entre o norte e o sul do país. Falta concluir 50 quilômetros de vias na região de Anápolis (GO).

Segundo ele, a chegada da ferrovia leva a desenvolvimento regional, o que já está sendo observado com a instalação de várias empresas ao longo da Malha Central, como transportadores de contêineres, esmagadoras de soja e usinas de etanol, que se beneficiam da redução de custos logísticos trazida pela implantação dos trilhos.
"Estamos fazendo a ferrovia com recurso 100% privado, baseado na alavancagem da empresa, porque estamos acreditando no Brasil e no seu futuro, independentes de volatilidades", disse o CEO.